Editorial

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  • Cadernos BAD

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https://doi.org/10.48798/cadernosbad.902

Resumo

Dois acontecimentos, para os bibliotecários e arquivistas portugueses, marcam para já o ano de 1965: o I Encontro neste começar de Abril e o primeiro número impresso de CADERNOS, que até aí tinham aparecido reproduzidos singelamente a stencil.A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, apercebendo-se com perfeita consciência do que representam para a Nação os bibliotecários e arquivistas, os quais tiram os seus diplomas no Curso que aquela mantém desde 1935, quis trazer para o Plano das grandes preocupações nacionais o problema destes técnicos, das consequências imprevisíveis que podem resultar para a cultura nacional pelo facto de não os haver em número suficiente. E fê-lo no momento oportuno. Agora ainda há uma esperança de pôr cobro a uma situação que, dia a dia, vai piorando.Deixar para mais tarde a solução do caso é que não faz sentido. Bem andou, pois, a Faculdade que detém o Curso de Bibliotecário-Arquivista em promover o I Encontro dos Bibliotecários e Arquivistas. E que nos pode dar esta reunião? Muitos serão os caminhos que se antolham, muitas as vias por onde se prosseguirá. Um aspecto, porém, sobreleva todos os outros: é o de que ele virá dizer ao País, aos seus dirigentes, ao público em geral, que há um grupo de técnicos qualificados que desejam o reconhecimento social e material a que têm altíssimo jus. A temática do Encontro é vária, como era de aconselhar - o problema bibliotecário ou arquivista português não é apenas um... Para lá dos aspectos puramente técnicos há esta realidade bem gritante: sem a devida compensação material, dentro em breve não haverá bibliotecários e arquivistas no País!Os inconscientes e ignaros dirão que tudo se pode resolver com uns tantos amadores. Mas amadores existiram e foram úteis e meritórios quando não havia profissionais, quando não havia técnicos, especialistas... Essa hora, porém, passou. Hoje já não se pode dizer isso, sob pena de uma gargalhada que é muito mais dolorosa e trágica do que uma resposta dura e desabrida -, é a gargalhada que põe o ferrete indelével no dorso dos ignorantes…Quando 'os bibliotecários e arquivistas se voltam para a escola superior que lhes deu o diploma, eles esperam que esta os compreenda e os acompanhe. Mas para que o reconhecimento público e oficial venha, e, com ele, a consequente melhoria na situação económica, é igualmente necessário que os bibliotecários e arquivistas saibam mais uma vez dar o exemplo que em tantas e tantas circunstâncias eles têm sabido dar, sofrendo incompreensões, sujeitando-se até a situações bem deprimentes - e fazendo-o com dignidade e aprumo. Que a Nação saiba reconhecer o esforço dos bibliotecários e arquivistas, que estes não deixarão também de demonstrar uma vez mais a sua real capacidade e as suas inúmeras virtudes.

A passagem de CADERNOS a impressos, significa que um esforço meritório atingiu o seu alvo. CADERNOS aí estão, não como obra destes ou daqueles, desta ou daquela localidade, mas apenas como obra de todos nós: bibliotecários e arquivistas portugueses. Se ainda houvesse incompreensões, elas seriam filhas da maledicência, de real e manifesta incapacidade, o que, felizmente, não é verdade. As razões dos constantes apelos à colaboração, ao envio de sugestões, de críticas positivas e não derrotistas, filiam-se num duplo desejo de permanente melhoria e de participação total.CADERNOS têm o seu caminho bem traçado e decidido - a melhoria da situação económica e técnica dos bibliotecários e arquivistas. E quem se atreverá a negar mérito e valor ao caminho que já se percorreu, à linha que se decidiu seguir?

Outro problema grave é o do novo edifício da Biblioteca Nacional de Lisboa. Há a esperança de ele abrir lá para 1966. E com que pessoal?Não lhe será dado um novo quadro e suficientemente dotado? Mas haverá bibliotecários em número suficiente para preencher as vagas que o novo quadro há-de fatalmente ter?Bem sabemos que todos estes problemas só podem ter uma solução, aliás idêntica à que o Governo já adoptou para os meteorologistas dos seus serviços respectivos. Como se sabe, estes estavam a ser pessimamente pagos - e os lugares ficavam por preencher, talqualmente como sucede com as nossas bibliotecas e arquivos. Então o ministro das Comunicações, pelo seu Decreto-Lei nº 46 099, de 23 de Dezembro de 1964, equiparou os meteorologistas aos outros técnicos do Estado. Ver-se-á que agora vão acorrer os técnicos e dentro em breve já os lugares estarão preenchidos com pessoal qualificado e dedicado única e exclusivamente à sua profissão.Ora é este o caminho que se tem de adoptar para os bibliotecários e arquivistas, pois, doutra forma, é levar os nossos estabelecimentos à ruína, ao desinteresse, à inutilidade. E hoje uma das maiores riquezas do património cultural português reside nas nossas bibliotecas e arquivos. Quem o não vê? Portanto, estamos crentes que, abrindo a Biblioteca Nacional em breve, uma reforma se impõe no capítulo dos bibliotecários e arquivistas. Que esta venha depressa e dê a estes técnicos o lugar a que têm direito no quadro geral dos técnicos do Estado!

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Publicado

01-04-1993

Como Citar

BAD, C. (1993). Editorial. Cadernos BAD, (2). https://doi.org/10.48798/cadernosbad.902

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