Bibliotecas e Arquivos: o diálogo na valorização dos Fundos Antigos
Palavras-chave:
Património Bibliográfico, Fundos Antigos, Arquivos e BibliotecasResumo
Este painel pretende apresentar e pôr em debate projetos feitos recentemente, onde se divulgam coleções de Fundos Antigos, e demonstrar a importância do trabalho de cooperação e diálogo, quer entre bibliotecários, arquivistas e investigadores, quer entre instituições.
Assistimos ao recrudescimento do interesse pelo Livro Antigo, donde emerge um crescente número de trabalhos de investigação sobre livrarias antigas e a história do livro nos seus aspetos sociais ou materiais, ao mesmo tempo que se vão editando catálogos e repositórios digitais.
Correspondendo aos anseios de profissionais que trabalham no âmbito do património bibliográfico e que diariamente se esforçam arduamente para identificar, tratar, estudar e disponibilizar as coleções documentais impressas e manuscritas à guarda em diversas instituições, o Congresso da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas com o tema “Ligar. Transformar. Criar valor” é o espaço adequado para a troca das experiências muito ricas adquiridas na investigação desses mesmos acervos e na adoção de metodologias de tratamento técnico, bibliográfico e arquivístico.
Os bibliotecários e arquivistas apoiam projetos de investigação e estudos académicos através da disponibilização dos seus fundos documentais, e eles próprios têm iniciativas neste âmbito, existindo já inúmeros casos de estudos sobre a constituição de livrarias antigas, sobre a história da circulação dos livros, os arquivos de família, em suma, os textos que configuram a cultura, a forma de viver, a organização social e a história das ideias.
Refletindo à luz de uma das linhas de trabalho, “Gestão e transformação de saberes e práticas”, sucedem-se contributos – uma livraria monástica, as bibliotecas de um eclesiástico e de um artista, a correspondência familiar entre as cortes portuguesa e espanhola, a constituição de uma base de registos de autoridade arquivísticos alicerçada nas normas internacionais que nos oferece um vasto leque de informações importantes para a compreensão do contexto de produção, o levantamento das proveniências dos Fundos Antigos – que põem em evidência experiências concretas de trabalho partilhado, dando voz a bibliotecários, arquivistas e investigadores.
O enfoque dado é o da metodologia seguida na investigação e tratamento técnico da documentação, os passos que foram dados, os problemas encontrados, o modo como foram superados, de maneira a que conjuntamente possamos melhorar a produção de instrumentos bibliográficos e arquivísticos no sentido de irem ao encontro das necessidades reais de todos os que trabalham com o património bibliográfico.
O debate proporcionará também uma ocasião para relançar o papel das tecnologias, na medida em que ajudam o bibliotecário, o arquivista, o investigador a mais facilmente organizar, disponibilizar e identificar a informação. E é neste contexto de acelerado desenvolvimento e mutações constantes que caberá refletir sobre a necessidade de uma nova cultura e novos curricula em termos de formação de base e ao longo da vida para todos aqueles que trabalham com Fundos Antigos.
Objetivos
- Promover o interesse e valorização do património bibliográfico
- Divulgar estudos de bibliotecas e fundos antigos
- Facilitar o acesso a experiências de tratamento técnico de fundos antigos
Constituição do painel
Fernanda Maria Guedes de Campos
Apresentação e moderação.
Ana Isabel Líbano Monteiro
A Livraria do Mosteiro de S. Martinho de Tibães.
A apresentação incidirá sobre a antiga Livraria do Mosteiro de Tibães - que figura entre as grandes bibliotecas monásticas portuguesas do Antigo Regime, com cerca de 4.000 títulos – a partir do Índex de 1798 (manuscrito existente no Arquivo Distrital de Braga), cuidadosamente elaborado por Frei Francisco de S. Luís - monge beneditino, futuro Cardeal Saraiva e Patriarca de Lisboa. O acervo assume singular importância para o estudo histórico da formação das elites monásticas, é espelho da vida quotidiana do mosteiro e fornece-nos pistas esclarecedoras do alcance do mercado livreiro português no século XVIII e XIX. A reconstituição deste extraordinário património bibliográfico permite ilustrar mais uma vertente da “Rota Beneditina Portuguesa”: a oração e a liturgia, as leituras e os estudos, o lazer e a técnica, a erudição e o apreço pelo livro, o dinamismo de uma biblioteca que foi apetrechada e renovada até às vésperas da sua extinção em 1834. O Inventário realizado a 12 de maio desse mesmo ano e analisado pela autora na Torre do Tombo traz-nos novas pistas para os periódicos nacionais e estrangeiros recebidos no Mosteiro – Casa Mãe da Ordem de S. Bento em Portugal.
Alice Lázaro
Os livros e os documentos: A viagem ao interior da corte no reinado de Dona Maria I através da correspondência familiar existente nos acervos da Biblioteca da Ajuda e da Biblioteca Nacional de Espanha.
A autora exporá sucintamente o modo como chegou às fontes e trabalhou a informação debaixo do conceito primordial da valorização do documento, enquanto testemunho da realidade histórica e a importância do suporte institucional durante o processo de pesquisa.
Joana Braga
Juntando as peças dispersas de um puzzle: o contexto de produção na descrição arquivística e sua importância para o conhecimento das Bibliotecas/Fundos Antigos.
As normas de descrição arquivística desenvolvidas pelo Conselho Internacional de Arquivos vieram conferir um corpo metodológico ímpar aos arquivos. O esforço de normalização consubstancia-se nas normas internacionais que abarcam a descrição: da documentação de arquivo através da ISAD (G); do contexto de produção da documentação utilizando a ISAAR (CPF); das funções recorrendo à ISDF; das entidades detentoras de acervos de arquivo, pela ISDIAH. A descrição do contexto de produção, que resulta nos chamados registos de autoridades arquivísticas, pode e deve ser partilhada por todas as entidades que detenham qualquer tipo de património com uma origem única. É no registo de autoridade arquivística que existe a oportunidade de fornecer todos os dados necessários à identificação unívoca da entidade produtora, seja uma instituição, uma pessoa ou uma família, informar sobre os vários nomes que teve, a sua história, as suas atribuições, e muito mais. É toda uma vastidão de informações e de conexões potenciais que facultam o conhecimento sobre o contexto de produção dos documentos de arquivo, que todos os utilizadores desse património podem usufruir.
Francisca Mendes
Contributos para a Reconstituição Virtual da Livraria do Convento da Cartuxa, 1587-1834.
Este estudo foi realizado no âmbito da Bolsa de Investigação da Cartuxa de 2011, atribuída pela Fundação Eugénio de Almeida, durante o qual, apesar de não existir inventário, foi possível identificar e localizar 625 livros impressos e códices, graças à menção de doação e de posse, que os monges se encarregaram de indicar nas obras com uma nota manuscrita. Grande parte destes livros foram doados pelo Arcebispo da cidade D. Teotónio de Bragança ao Convento de Santa Maria de Scala Coeli. A Ordem da Cartuxa foi instituída em Évora, em 1587, pelo mesmo D. Teotónio de Bragança (1530-1602), sofreu a extinção e desamortização em 1834, altura em que, no inventário dos bens do Convento, não foi contemplada a Livraria, pois o Ministro dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, Joaquim António de Aguiar, considerou-a muito extensa, e ordenou que fosse simplesmente fechada para posterior inventariação, fato que nunca chegou a acontecer. Atualmente, estes livros encontram-se em grande parte na Biblioteca Nacional de Portugal, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Biblioteca Central da Marinha, Biblioteca Pública de Évora e Arquivo Distrital de Évora.
Leonor Antunes
A coleção de impressos bodonianos vendidos pelo pintor Vieira Portuense à Real Biblioteca Pública da Corte – reconstituição nos arquivos e bibliotecas da viagem dos livros, de Parma a Lisboa e do Convento de São Francisco no Chiado até ao Campo Grande.
Na BNP encontra-se uma coleção de livros impressos em Parma, na tipografia do célebre Giambattista Bodoni, que foram trazidos de Itália pelo pintor Francisco Vieira Portuense amigo do impressor. O estudo e descrição desta bodoniana, as motivações e condições em que foi constituída a coleção, a viagem dos livros, a documentação que atesta os trâmites da aquisição por compra, as personalidades envolvidas, bem como o percurso e vicissitudes que sofreu já na Real Biblioteca Pública da Corte, foi possível com o recurso à documentação de arquivo atualmente existente em Portugal - na BNP e na Torre do Tombo - e no estrangeiro - na Biblioteca-Museo de Parma e nos fundos documentais de outras bibliotecas e arquivos da região da Emília-Romagna e de Itália, por onde circulou e conviveu Vieira Portuense e onde podemos encontrar o epistolário que o pintor trocou com as personalidades da época. É esta investigação e a história desta preciosa coleção bodoniana com cerca de duzentos títulos catalogados que nos propomos apresentar, cuja revalorização patrimonial se deveu, sem dúvida, às pesquisas realizadas no âmbito das bibliotecas e do arquivos.
Destinatários
Bibliotecários, Arquivistas e Investigadores. Profissionais que trabalham com Fundos Antigos e Especiais.
Palavras-chave: Património Bibliográfico, Fundos Antigos, Arquivos e Bibliotecas.