Padrão de citação de revistas biomédicas: diferenças entre revistas brasileiras e portuguesas
Palavras-chave:
literatura biomédica, produção científica, padrão de citação, indicadores de citação, língua portuguesaResumo
Introdução: Estudos anteriores identificaram valores de citação extremamente baixos de autores portugueses a trabalhos portugueses. Foram identificadas diferentes taxas de citação para artigos originários de diferentes países, mesmo quando publicados nas mesmas revistas. O idioma diferente do Inglês tem sido usado para justificar estes níveis tão baixos de citação. Os hábitos diferentes dos países que fazem referência foram menos estudados.
Objetivos: Analisar as diferenças nos padrões de referenciação bibliográfica em revistas biomédicas do Brasil e de Portugal.
Método: Foram analisadas todas as referências de todos os artigos publicados em 2009 e 2010 em 11 revistas biomédicas (7 do Brasil e 4 de Portugal) das seguintes áreas: Clínica geral (4), Saúde Pública (3), Ginecologia e Obstetrícia (2) e Cirurgia (2). Nós determinamos o tipo de fontes citadas (livros e monografias, sites e revistas). Para as revistas foi identificado o país de origem da fonte citada. As médias foram comparadas usando os testes t.
Resultados: Nesta fase preliminar do estudo, foram analisadas 32782 referências em 1430 artigos (1038 do Brasil e 392 de Portugal). 93,1% dos artigos foram publicados em Português, com uma diferença significativa entre os dois países (Brasil= 90,7%; Portugal = 98,7%; p <0,001). Não se encontraram diferenças entre os dois países no número de autores por artigo (p = 0,112), de referências por artigo (p = 0,629) ou páginas por artigo (p = 0,155).
Dos artigos analisados, a média de referências a revistas científicas é de 79,9% [SD = 21,9], com diferença significativa (p = 0,014) entre os dois países (Brasil = 80,7% [DP = 20,9]; Portugal 77,4% [DP = 24,4]). O número médio de citações de livros para o total de artigos foi de 16,3% [DP = 19,3]. Não se encontrou diferença significativa (p = 0,068) na percentagem de citação a livros entre os dois países, sendo de 15,7% [DP = 18,4] nas revistas brasileiras e 17,9% [SD = 21,5] nas portuguesas. A média de citação a sites foi de 3,1% [DP = 8,2], com diferença significativa (p = 0,012) entre o Brasil (2,7% [DP = 7,4%]) e Portugal (4,0% [DP = 10,2]).
Foram encontradas diferenças significativas (p <0,001) entre a percentagem média de autocitação (referência à mesma revista citadora) entre a produção de ambos os países analisada no estudo. As autocitações representaram 6,0% [SD = 12,4] das referências brasileiras e 2,1% [DP = 9,3] das referências portuguesas.
Também foi diferente (p <0,001) a citação média de periódicos do próprio país. Em média, 30,1% [SD = 30,1] das citações dos periódicos brasileiros são de revistas brasileiras, enquanto as revistas portuguesas citam, em média, 5,4% [SD = 15,2] revistas portuguesas. Também houve diferença significativa (p <0,001) nas percentagens com que cada país cita o outro. As revistas brasileiras citam 0,1% [DP = 1,4] de artigos publicados em revistas portuguesas, enquanto as revistas portuguesas citam 3,2% [DP = 8,4] de artigos publicados em revistas brasileiras.
Em menor escala, também houve diferença significativa (p <0,001) na referência a revistas publicadas nos Estados Unidos, sendo 39,7% [DP = 25,9] nas revistas brasileiras e 40,4% [DP=24,4] nas revistas portuguesas.
Conclusões: Comparados com artigos publicados em Português, os artigos publicados em revistas brasileiras têm maior autocitação, citam muito mais revistas do seu próprio país e pouco artigos publicados em revistas portuguesas. As causas desses diferentes padrões merecem um estudo aprofundado bem como uma análise das consequências nos indicadores bibliométricos de impacto.