Padrão de citação de revistas biomédicas: diferenças entre revistas brasileiras e portuguesas

Autores

  • Sílvia Lopes Departamento de Sócio-Farmácia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
  • Pedro Faria Lopes Departamento de Ciências e Tecnologias da Informação (DCTI), ISCTE-IUL, Lisboa, Portugal
  • Fernando Fernández-Llimós Departamento de Sócio-Farmácia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Palavras-chave:

literatura biomédica, produção científica, padrão de citação, indicadores de citação, língua portuguesa

Resumo

Introdução: Estudos anteriores identificaram valores de citação extremamente baixos de autores portugueses a trabalhos portugueses. Foram identificadas diferentes taxas de citação para artigos originários de diferentes países, mesmo quando publicados nas mesmas revistas. O idioma diferente do Inglês tem sido usado para justificar estes níveis tão baixos de citação. Os hábitos diferentes dos países que fazem referência foram menos estudados.
Objetivos: Analisar as diferenças nos padrões de referenciação bibliográfica em revistas biomédicas do Brasil e de Portugal.
Método: Foram analisadas todas as referências de todos os artigos publicados em 2009 e 2010 em 11 revistas biomédicas (7 do Brasil e 4 de Portugal) das seguintes áreas: Clínica geral (4), Saúde Pública (3), Ginecologia e Obstetrícia (2) e Cirurgia (2). Nós determinamos o tipo de fontes citadas (livros e monografias, sites e revistas). Para as revistas foi identificado o país de origem da fonte citada. As médias foram comparadas usando os testes t.
Resultados: Nesta fase preliminar do estudo, foram analisadas 32782 referências em 1430 artigos (1038 do Brasil e 392 de Portugal). 93,1% dos artigos foram publicados em Português, com uma diferença significativa entre os dois países (Brasil= 90,7%; Portugal = 98,7%; p <0,001). Não se encontraram diferenças entre os dois países no número de autores por artigo (p = 0,112), de referências por artigo (p = 0,629) ou páginas por artigo (p = 0,155).
Dos artigos analisados, a média de referências a revistas científicas é de 79,9% [SD = 21,9], com diferença significativa (p = 0,014) entre os dois países (Brasil = 80,7% [DP = 20,9]; Portugal 77,4% [DP = 24,4]). O número médio de citações de livros para o total de artigos foi de 16,3% [DP = 19,3]. Não se encontrou diferença significativa (p = 0,068) na percentagem de citação a livros entre os dois países, sendo de 15,7% [DP = 18,4] nas revistas brasileiras e 17,9% [SD = 21,5] nas portuguesas. A média  de citação a sites foi de 3,1% [DP = 8,2], com diferença significativa (p = 0,012) entre o Brasil (2,7% [DP = 7,4%]) e Portugal (4,0% [DP = 10,2]).
Foram encontradas diferenças significativas (p <0,001) entre a percentagem média de autocitação (referência à mesma revista citadora) entre a produção de ambos os países analisada no estudo. As autocitações representaram 6,0% [SD = 12,4] das referências brasileiras e 2,1% [DP = 9,3] das referências portuguesas.
Também foi diferente (p <0,001) a citação média de periódicos do próprio país. Em média, 30,1% [SD = 30,1] das citações dos periódicos brasileiros são de revistas brasileiras, enquanto as revistas portuguesas citam, em média,  5,4% [SD = 15,2] revistas portuguesas. Também houve diferença significativa (p <0,001) nas percentagens com que cada país cita o outro. As revistas brasileiras citam 0,1% [DP = 1,4] de artigos publicados em revistas portuguesas, enquanto as revistas portuguesas citam 3,2% [DP = 8,4] de artigos publicados em revistas brasileiras.
Em menor escala, também houve diferença significativa (p <0,001) na referência a revistas publicadas nos Estados Unidos, sendo 39,7% [DP = 25,9] nas revistas brasileiras e 40,4% [DP=24,4] nas revistas portuguesas.
Conclusões: Comparados com artigos publicados em Português, os artigos publicados em revistas brasileiras têm maior autocitação, citam muito mais revistas do seu próprio país e pouco artigos publicados em revistas portuguesas. As causas desses diferentes padrões merecem um estudo aprofundado bem como uma análise das consequências nos indicadores bibliométricos de impacto.

Biografias Autor

Sílvia Lopes, Departamento de Sócio-Farmácia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Doutoranda na Faculdade de Farmácia da Univ. Lisboa. Mestre em Estudos de Informação e Bibliotecas Digitais (2009), pelo ISCTE. Licenciada em Geografia, variante Geografia Física e Ordenamento do Território (2005), pela Faculdade de Letras da Univ. Lisboa. Bibliotecária na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, com interesse pelas novas tecnologias de informação e disponibilização e acesso à produção científica. Colabora com os diversos cursos da FFUL nas atividades de formação do utilizador, na utilização de recursos eletrónicos e literacia da informação. Integra a equipa de administração do Repositório Institucional da UL. Vice-Presidente da APDIS – Associação Portuguesa de Documentação e Informação em Saúde. Integra as Equipas de Formadores B-on, BAD e APDIS.

Pedro Faria Lopes, Departamento de Ciências e Tecnologias da Informação (DCTI), ISCTE-IUL, Lisboa, Portugal

É Professor Associado do Departamento de Ciências e Tecnologias da Informação (DCTI) do ISCTE-IUL, onde coordena o Mestrado em Engenharia Informática. Lecciona e é coordenador das Unidades Curriculares de Multimédia e Computação Gráfica, Interacção Pessoa-Máquina, Jogos Por Computador, Som e Vídeo para Multimédia e Gestão Multimédia. URL: iscte.pt/~pcfl

Fernando Fernández-Llimós, Departamento de Sócio-Farmácia da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa

Concluiu Doctorado en Farmacia - Universidad de Granada em 2003. É Professor Auxiliar na Universidade de Lisboa. Publicou 103 artigos em revistas especializadas e 142 trabalhos em actas de eventos, possui 10 capítulos de livros e 11 livros publicados. Possui 85 itens de produção técnica. Participou em 12 eventos no estrangeiro e 6 em Portugal. Orientou 6 teses de doutoramento, orientou 21 dissertações de mestrado, alem de ter orientado 17 trabalhos de conclusão de curso de bach./licenciatura e 3 monografias de conclusão de curso de aperfeiçoamento/especialização na área de Ciências da Saúde. Recebeu 3 prémios e/ou homenagens. Actualmente participa em 1 projecto de investigação. Actua nas áreas de Ciências Médicas com ênfase em Ciências da Saúde e Ciências Sociais com ênfase em Ciências da Comunicação. Nas suas actividades profissionais interagiu com 282 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos.

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Publicado

2012-10-18