Esperança e angústia para os fins de 1969

Autores

  • Cadernos BAD

DOI:

https://doi.org/10.48798/cadernosbad.1142

Resumo

À medida que o presente ano se aproxima do seu termo, um duplo sentimento se apodera dos bibliotecários, arquivistas e documentalistas portugueses: por um lado, esperança e, por outro, angústia. Compreende-se perfeitamente que assim seja. Com a chegada do final 'do presente ano apresenta-se a questão do novo orçamento para 1970 e a correspondente aprovação da Lei de Meios. Portanto, todos pomos aí a esperança de que tais diplomas irão colocar na devida situação - os funcionários mais mal pagos do Estado com um curso do ensino superior! Eis o lema a que se reduz hoje uma profissão que devia ser das primeiras de uma Nação, pois é nela que repousa uma das estruturas das sociedades evoluídas. Mas também não podemos esquecer este princípio terrível, desolador: «diz-me as bibliotecas que tens e dir-te-ei o valor dos teus investigadores e do nível cultural do teu País…». E este princípio não nos é nada favorável... Realmente aqueles dois diplomas são a esperança de todos nós, tanto mais, ao que se diz, que a anunciada Reforma Administrativa não vai surgir nos tempos mais próximos. Está demorada. Assim, as nossas esperanças residem todas nos diplomas que estão para aparecer em breve - a Lei de Meios e o Orçamento Geral do Estado para 1970. Que eles tragam o que nós desejamos!Agora ponhamos a outra questão, a da angústia que nos aflige, ou seja, a de que não melhorará em futuro breve a situação dos bibliotecários, arquivistas e documentalistas. Então, nada sabemos do que irá acontecer. No entanto, estejamos todos certos de uma coisa: a debandada será geral, pois cada qual procurará no ensino, nos «trabalhos por fora», a compensação para o crónico «deficit» doméstico que não se compadece com 2 600$00 mensais que é quanto ganha um terceiro conservador! Com tal vencimento que se espera? Nada, evidentemente. Portanto, assim como há o êxodo rural, também haverá o êxodo do pessoal técnico e superior das bibliotecas, arquivos e centros de documentação portugueses.Não se obstará a este? Claro que só se pode obstar desde que se seja inteligente e se proporcionem as condições de remuneração aceitáveis. Doutro modo é estar a cavar a ruína de tais estabelecimentos - e pior ainda: é cavar a ruína da própria cultura nacional sem se aperceber, sem se ter a perfeita consciência, de que se está a ser o seu coveiro. E ninguém pode tomar a posição cómoda do avestruz: este, quando há tempestade no inclemente deserto, mete a cabeça debaixo da asa até a tormenta passar. E quando esta abala, logo o avestruz diz, muito contente mas também inconsciente de todo: «Afinal não houve nada, a tempestade, as dificuldades não existiram…» Pobre avestruz!...A sua atitude será cómoda, mas é uma autêntica traição, pois recusa-se a tratar das questões reais, encarando-as de frente. Ora as tempestades, neste campo, são permanentes pelo que um dia o avestruz se verá só, triste, ferido de morte, apenas verificando à sua volta a ruína e a desolação.Mas, apesar de tudo, os técnicos superiores dos nossos estabelecimentos biblioteconómicos e arquivísticos ainda jogam na quadriga da esperança, em detrimento da do desespero e da angústia...

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Como Citar

BAD, C. (1969). Esperança e angústia para os fins de 1969. Cadernos BAD, (4). https://doi.org/10.48798/cadernosbad.1142

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Editorial