Dez anos de b-on segundo os investigadores portugueses: impacto e consequências
Palavras-chave:
Inquérito eletrónico, Biblioteca do Conhecimento Online, b-on, Consumo de informação, Produção científica, PortugalResumo
Resumo
É sabido que com a difusão e propagação do uso dos recursos científicos eletrónicos as práticas de consulta e de leitura dos investigadores mudaram, não só ao nível do tempo que dedicam à pesquisa, mas sobretudo pela quantidade e variedade de conteúdos que consultam muito mais facilmente e rapidamente. Com o surgimento da b-on em abril de 2004 a quantidade e a qualidade dos conteúdos disponíveis aos investigadores aumentaram significativamente.
Quisemos, então, perceber se este aumento gradual no acesso a conteúdos científicos teve impacto nas suas rotinas e práticas profissionais, bem como ao nível da sua produção científica.
Assim, entre Dezembro de 2013 e Fevereiro de 2014 aplicámos um inquérito online a 500 investigadores de modo a aferir qual o uso que faziam dos recursos disponibilizados pela b-on e em que medida é que esta Biblioteca lhes trouxe mudanças à sua prática profissional.
Introdução
Tendo a b-on completado 10 anos de existência em 2014, era altura de conhecer a opinião dos investigadores nacionais, de modo a perceber não só se usavam a b-on, mas o que é que esta trouxe de novo às suas rotinas e práticas de investigação, não só ao nível do acesso, mas também em termos da sua produção científica. Como refere Deng (2010) para melhorar os serviços e apoio aos utilizadores é fundamental compreender e conhecer as suas expectativas, experiências e perceção ao nível da utilização, pelo que considerámos ser fundamental questionar os autores com maior produção relativamente ao uso da b-on.
Método
Entre Dezembro de 2013 e Março de 2014 aplicámos um inquérito online a 500 investigadores de modo a aferir qual o uso que faziam dos recursos disponibilizados pela b-on e em que medida é que esta Biblioteca lhes trouxe mudanças à sua prática profissional. A nossa amostra era constituída por 100 investigadores e docentes de cada uma das cinco universidades com mais artigos indexados na Web of Science no período de 2000 a 2010 e que são: a Universidade de Aveiro, a Universidade do Minho, a Universidade Nova de Lisboa, a “antiga” Universidade Técnica de Lisboa (atualmente fundida com a Universidade de Lisboa) e a Universidade do Porto. Apesar das limitações conhecidas desta base de dados produto da Thomson Reuteurs, como seja o viés temático, linguístico e a limitada representação de revistas de países não anglófonos, esta é uma das principais plataformas bibliográficas com caráter multidisciplinar.
O questionário era constituído por um total de vinte e oito questões e era composto por cinco partes: a primeira para identificação de dados sociodemográficos dos utilizadores (Instituição, Perfil, Área Científica, Principal atividade, Género e Idade), a segunda com questões sobre o conhecimento e utilização da b-on, a terceira sobre o acesso feito à b-on, a quarta sobre produção científica e a quinta solicitava feedback sobre a importância que a b-on assume para o desenvolvimento das atividades de ensino e investigação.
Resultados
Foram obtidas 201 respostas correspondendo a 42% do total da nossa amostra. Este resultado foi satisfatório, partindo do princípio de que este questionário faz parte de um trabalho de investigação, não havendo, pois, qualquer obrigatoriedade na resposta.
A Universidade do Porto foi a que apresentou uma maior taxa de resposta 49, logo seguida da Universidade Nova de Lisboa com 47 e da Universidade de Aveiro com 44 A Universidade do Minho foi a que apresentou o menor número de respostas, 25.
Perfil
A maioria das respostas, 161 em 201 (80,1%) identificou-se como Professor e 40 (19,9%) como Investigador. Esta é uma situação comum às cinco universidades, sendo o perfil de Professor mais indicado em qualquer uma das cinco instituições.
Área Científica
área científica com maior número de respostas foi a das Ciências Exatas com 44,3% das respostas, seguida das Engenharias e Tecnologias com 36,3% e as Ciências da Saúde alcançaram 19,4% das respostas. Não houve qualquer resposta quer das Artes e Humanidades quer das Ciências Sociais, o que já era esperado, uma vez que questionámos os autores com mais artigos e quer as Artes e Humanidades, quer as Ciências Sociais, apesar de também publicarem através de artigos, o seu veículo primordial de comunicação continua a ser o livro.
Grupos de idades
Cada respondente pôde indicar a sua idade, a qual foi posteriormente integrada numa das cinco faixas etárias: 31-40, 41-50, 51-60, 61-70 e +71.
Cerca de 48% das respostas foram obtidas de investigadores entre os 41 e os 50 anos e 31,3% da faixa etária seguinte, i.e., dos 51 aos 60 anos. A faixa etária com menor número de respostas é a dos + de 71 (2,5%).
Uso da b-on
Quando questionados sobre a utilização da b-on apenas 5% dos investigadores respondeu que não a utilizavam, i.e., 95% reconheceu utilizar.
Relativamente às razões para o uso da b-on podemos verificar que a principal razão é o apoio à investigação (80,6%), seguida do acesso a periódicos fundamentais da área de trabalho/estudo (73,6%), do acompanhar os desenvolvimentos na área de estudo (66,2%) e do aceder a informação atualizada (60,7%).
Também Rodríguez Bravo et al. (2013) chegam à mesma conclusão indicando que a investigação é a principal finalidade pela qual se utilizam as revistas.
Com base nas respostas obtidas ao nosso questionário podemos afirmar que os investigadores reconhecem a importância do acesso aos conteúdos que a b-on lhes disponibiliza, indicando que esta:
- Os ajudou a concretizar um trabalho de investigação (83,5%),
- Lhes permitiu aumentar a sua produção científica (77,2%),
- Os ajudou a publicar em periódicos de maior qualidade (63,2%)
Concordam também com a afirmação “a b-on contribui para aumentar a produção científica nacional” (80,6%) e com “a b-on contribui para melhorar a qualidade da produção científica nacional” (84,1%).
Tenopir e Volentine (2012) acreditam que os investigadores de maior sucesso e de maior produção científica são simultaneamente aqueles que leem mais artigos. Embora não possamos concluir uma relação de causa e efeito, tal demonstra que a leitura de conteúdos académicos e científicos é fundamental para e na produção científica.
Discussão
Existe uma forte relação entre a utilização de conteúdos científicos e a produção dos mesmos, pelo que a importância e impacto da b-on em ambos é fundamental, uma vez que permite a toda a comunidade aceder aos mesmos conteúdos, democratizando o acesso aos mesmos, e direta e indiretamente contribuir para o aumento da produção científica nacional.
São vários os estudos internacionais (Deng, 2010; Rodríguez Bravo et al., 2013; Tenopir & Volentine, 2012; Volentine & Tenopir, 2013) que indicam que os investigadores de maior sucesso e de maior produção científica são simultaneamente aqueles que leem mais artigos, ou seja, a leitura de conteúdos académicos e científicos é fundamental para e na produção científica e isso foi reconhecido pelos nossos investigadores.
Conclusão
A b-on tem sido um meio fundamental de democratização do acesso à informação, permitindo que todas as instituições do ensino superior público acedam aos mesmos conteúdos independentemente da sua localização geográfica, dimensão ou histórico. Com base na análise das respostas obtidas pudemos confirmar que a disponibilização da b-on teve consequências não só ao nível do acesso a conteúdos científicos por parte da comunidade académica e científica nacional, mas também ao nível da produção científica.