A Central Eletrónica de Arquivo do Estado: ameaça ou oportunidade?

Autores

  • Pedro Penteado Direção-Geral de Arquivos, Divisão de Apoio Externo e Normalização

Palavras-chave:

Gestão de documentos de arquivo, Administração Pública, diagnóstico, desmaterialização, armazenamento

Resumo

Foi publicada a 7 de Fevereiro deste ano a Resolução do Conselho de Ministros n.º 12/2012, que aprovou e procura o “Plano global estratégico de racionalização e redução de custos com as TIC na Administração Pública” (AP) no horizonte dos anos 2012-2016, elaborado pelo Grupo de Projeanto para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Com vista à sua implementação, foram contempladas 25 medidas de racionalização, distribuídas por 5 eixos de atuação: “(i) melhoria dos mecanismos de governabilidade, (ii) redução de custos, (iii) utilização das TIC para potenciar a mudança e a modernização administrativa (iv) implementação de soluções TIC comuns, e (v) estímulo ao crescimento económico”. Uma parte considerável destas medidas tem consequências no modo como é gerida a informação arquivística na Administração Pública, particularmente as que dizem respeito à elaboração do modelo de governação para as TIC, à arquitetura, normas e guidelines para as tecnologias e sistemas de informação, à adoção das orientações europeias em matéria de interoperabilidade na Administração, à segurança da informação, à autenticação e assinaturas eletrónicas, à redução da utilização do papel nos organismos públicos, ao recurso à Cloud Computing na AP, etc.

Entre todas as medidas, merece particular destaque a n.º 15, intitulada “Central eletrónica de arquivo do Estado”, que tem como principal objetivo a deslocalização dos “diferentes arquivos em papel das várias instituições públicas para uma única localização numa zona de baixo custo imobiliário”. Prevê-se que a deslocalização deverá ser acompanhada de intervenções com vista ao aprofundamento da desmaterialização, principalmente “a digitalização do arquivo” com vista a tornar “o seu acesso fácil, imediato e de baixo custo”.

A medida, inclui várias “ações”, de acordo com o referido Plano, a exemplo do “Diagnóstico detalhado da situação arquivística do Estado”, a elaboração de um estudo de valorização do património imobiliário utilizado atualmente para albergar os arquivos existentes, implementação de um caso piloto num ministério a identificar e “na restante AP Central e Local”.

A medida envolve atualmente a Agência para a Modernização Administrativa, a Direção Geral do Tesouro e Finanças e a DGARQ, entidade responsável pelo referido Diagnóstico. Prevê-se que os primeiros resultados deste ocorram em meados de Outubro, a poucos dias do Congresso, permitindo atualizar os dados do relatório de 2010. Trata-de se de obter um maior conhecimento da realidade arquivística da AP, sobre a qual se deverá planear a implementação das “ações” seguintes. Ao mesmo tempo, pretende-se que os resultados entretanto apurados possam também servir para sedimentar as propostas do Grupo de trabalho de Gestão de documentos da AMA com vista à qualificação dos sistemas eletrónicos de gestão de arquivo e dos sistemas de informação na AP, através da introdução de requisitos obrigatórios que se prevê possam vir a ser publicados numa Resolução do Conselho de Ministros ainda em 2012.

No modelo atual de gestão de documentos da Administração Central do Estado (ACE), cada organismo deve gerir a sua documentação de uso corrente, maioritariamente em suporte analógico, e transferir a restante, de uso não corrente, para repositórios das secretarias-gerais ou entidades similares, as quais devem ter competências especializadas para promover a sua recolha, tratamento e comunicação. Desse ponto de vista, à primeira vista, poderia afirmar-se que a medida 15 constituiria uma ameaça ao modelo atual. Mas qual o grau de eficiência deste? Permitiu alcançar resultados satisfatórios? É preciso encontrar um modelo alternativo? Pode a proposta da medida 15 ser trabalhada nesse sentido, com vantagem para a gestão de documentos públicos?

Neste contexto, o painel partirá dos dados atuais, apresentados pelo seu coordenador, para verificar as limitações do atual modelo, identificar necessidades de mudança e analisar, no contexto atual, se a medida 15 pode traduzir oportunidade de desenvolvimento da gestão da informação/documentação na AP, através do estabelecimento de políticas adequadas, de ganhos de eficiência, da qualificação dos recursos envolvidos, de ações de desmaterialização associada à qualificação dos sistemas de arquivo e de informação da AP, de ações de avaliação, seleção e eliminação de grandes massas de documentação, da promoção da recolha, tratamento e acesso à informação arquivística, etc.

Assim, o painel terá como objetivo debater a medida 15 - Central eletrónica de arquivo de Estado e verificar como esta poderá constituir uma oportunidade para evoluir na gestão da informação/documentação pública, tendo em conta os seguintes itens de análise:

  1. Políticas públicas de arquivo na ACE e modelos de gestão de documentos associados;
  2. Modelo de governance e de sustentabilidade do modelo alternativo proposto;
  3. Requisitos político-legais e técnicos para a implementação de boas práticas de gestão de documentos, de acordo com referenciais (abrangendo as várias áreas de gestão de informação, a exemplo das que envolvem desmaterialização, avaliação, preservação digital, etc);
  4. Economia da gestão da informação (investimentos, financiamentos, contratações, modelos/medidas de eficiência, etc);
  5. Implementação de um sistema de informação de gestão e disponibilização dos documentos digitais que permita o aumento do acesso à informação.

Para o debate são convidados representantes da AMA ligados à execução do Plano estratégico TIC e da medida 15 e ao Grupo de trabalho de Gestão de documentos, da DGARQ, da DGTF e de potenciais candidatos a ministério piloto para aplicação da medida.

O painel destina-se a gestores, profissionais da informação/documentação, especialistas em sistemas e tecnologias da informação e comunicação e outrosm interessados no tema.

 

Biografia Autor

Pedro Penteado, Direção-Geral de Arquivos, Divisão de Apoio Externo e Normalização

Nota biográfica - Pedro Penteado
Diretor de serviços de Arquivística e Normalização na Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas

Habilitações académicas:
Licenciatura em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). Mestrado em História Moderna pela FLUL.
Curso de Especialização em Ciências Documentais (opção Arquivo) pela FLUL.
Master en Documentación pela Universidad de Alcalá.
Doutorando em Ciências da Documentação.

Experiência profissional:
Iniciou a actividade profissional, em 1989, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Entre 1 de Agosto de 2004 e 24 de Junho de 2007 foi diretor de serviços de Arquivística do Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo (IAN/TT). Entre 25 de Junho de 2007 e 19 de Junho de 2012 foi director de serviços de Arquivística e Apoio Técnico da Direção Geral de Arquivos (DGARQ).
Coordena o Diagnóstico à situação arquivística do Estado, no âmbito da medida 15 da Resolução do Conselho de Ministros n.º 12/2012, de 7 de Fevereiro. Colabora com Grupo de trabalho para a Gestão de documentos na Administração Pública, criado no âmbito da Rede Interministerial para as TIC / AMA - Agência para a Modernização Administrativa. É o responsável pela coordenação do Programa de auditorias da DGARQ desde 2008. Coordena a equipa da DGARQ que efetua a gestão do Programa Administração Eletrónica e Interoperabilidade Semântica e a Macroestrutura Funcional. Coordenou a Equipa de acompanhamento do Projecto de Levantamento de processos da Administração Central do Estado. Coordenou as “Orientações para a gestão de documentos de arquivo no contexto de uma reestruturação da Administração Central do Estado” (1.ª e 2.ª edição). Representa a DGARQ na Comissão permanente da Comissão Técnica de Normalização em Informação e Documentação (CT7) do Instituto Português da Qualidade.
A sua experiência profissional estende-se ainda à organização, descrição e informatização de arquivos eclesiásticos privados, tendo coordenado serviços e projectos neste domínio. Foi subcoordenador do Projecto Junta da Real Fazenda do Estado da Índia, do Centro Damião de Góis (IAN/TT e Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses).

Outros dados:
Frequentou e concluiu o Seminário de Alta Direcção da Administração Pública (SADAP) e o Programa de Formação em Gestão Pública (FORGEP) no Instituto Nacional de Administração (INA). Realizou vários estágios internacionais, no Brasil, no Canadá e em França.
É assistente convidado do Mestrado em Ciências da Informação e Documentação da Universidade Nova de Lisboa onde tem co-orientado relatórios de estágios e dissertações. É professor do Diploma de Especialização em Gestão de Conteúdos, do INA - DEGECO.
É membro do Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) da Universidade Católica Portuguesa, do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa e colaborador do Instituto de Estudos Medievais da mesma entidade.
É membro da Comissão científica do 11.º Congresso Nacional da Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas. É também membro da Comissão Científica do Projecto “Portugaliae Monumenta Misericordiarum” e da Comissão Científica da “Documentação Crítica de Fátima”.
Representou a Conferência Episcopal Portuguesa no Conselho Nacional de Cultura, na Secção Arquivos.
Publicou diversos artigos e monografias e proferiu várias conferências nos domínios da Arquivística e da História Religiosa, em Espanha, França, Brasil e Canadá. Foi responsável pela revisão científica da tradução portuguesa da obra de Jean-Yves Rousseau e Carol Couture, «Les fondements de la discipline archivistique».

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Publicado

2012-10-18